segunda-feira, 28 de dezembro de 2015

Heartless

Ela costuma tomar qualquer sumiço como rejeição. Talvez pela frequência com que os dois costumam acontecer. E nunca sabe se foi verdade ou paranoia. Talvez porque se sinta sempre menos, não merecedora do que quer. Ou talvez porque os outros digam que ela deve largar mão do que quer, por falta de respostas, interesses, reciprocidade. Ouviu a vida toda que suas paixões impossíveis eram, na verdade, uma fuga conformada para evitar a dor. Como se lidar com a rejeição fosse mais fácil do que aceitar um final feliz. Disseram que era coisa de signo, chamar a atenção de todos, quando a atenção de um só já fazia seu mundo virar de cabeça para baixo e deixar as pernas bambas. O horóscopo também diz se ele vai retribuir?

The Fray -  Heartless

terça-feira, 22 de dezembro de 2015

Eu só gosto de você



Eu queria escrever o melhor texto, fazer a melhor declaração e correr para te dar o melhor abraço. Mesmo não tendo certeza de que você iria querer me abraçar.

Queria te deixar emocionado e te conquistar, assim como você me conquistou. Apesar de todas as desculpas que arrumei para isso tudo não acontecer. Apenas pelo simples fato de não ter ideia de como seria bom gostar de você.

Felizmente, me enganei.

Abandonei as entrelinhas, as rimas, a vergonha e o medo. Porque uma hora a gente precisa ceder, sem olhar o tanto que falta para a corda arrebentar. Sem nem mesmo segurar na corda. Mergulhar de cabeça não dói, no máximo vai molhar. E como a cura para todas as coisas é a água…. seja lágrima, suor ou chuva….

A gente vai escutar o que uma mulher deve ou não fazer para segurar alguém, ou como deve se comportar. Mas o melhor conselho que ouvi desde que nasci é que não devemos passar vontade. E nesse momento a minha vontade é de deixar você saber que eu gosto muito de você. E se você me sorrir de volta, vou te encher de beijos. Sem entrelinhas, sem rimas e sem medo.



 Biquini Cavadão - Quando eu te encontrar

É só uma lembrancinha

Lembrança: s.f. Recordação; aquilo que está guardado na memória; o que recorda uma experiência já vivida; o que expressa uma situação já passada.

Lembrancinha: substantivo feminino no diminutivo. Palavra usada para expressar que o remetente pretende gastar pouco com o destinatário e dizer que lembrou-se dele.

É final de ano e todos procuram presentes que lembrem o passado. Ou que possam transmitir a mensagem de que quem recebe foi lembrado, automaticamente. Embrulhos com objetos de baixo custo, mas sem pensar no alto valor que eles podem realmente ter.
Por isso há o janeiro das trocas, logo após os sorrisos amarelos e agradecimentos robotizados. Até alguém perceber que lembrança não se troca. Lembrança não se dá. Elas acontecem e fazem a gente rir, hoje, amanhã ou mil anos depois.
E poucos sabem, lamentavelmente que, um sorriso é uma lembrança feliz. E nem precisa de um laço. Mas isso é só uma lembrancinha.

Se reparar bem

Se reparar bem, todos os lugares tem coisa podre. Todos.
Se reparar bem, tudo dá câncer, tudo mata, tudo faz sofrer.
Se ler a bula, você nem toma o remédio. Se assistir ao noticiário, não come, não bebe e não sai de casa.
E se reparar muito bem mesmo, todo dia o por do sol está diferente, e os dias que chovem fazem a gente pensar mais, como a gente faz no chuveiro todos os dias. E é revigorante. Se perceber, a internet aproximou e distanciou as pessoas, mas nenhuma tela de led vai substituir as histórias contadas na mesa do bar.
E se parar de reparar, as pessoas ficarão mais bonitas, mais bem arrumadas e mais histórias poderão acontecer.

2



Eu não quero que o meu "gostar de você" seja fruto de uma solidão, de qualquer desilusão, ou resultado de algum "não".
Não quero que seja culpa daquela carência, falsa inocência ou trauma por falta de decência.
Não quero que seja confundido com desespero surreal ou que seja um apelo social.
E, por mais que eu tente tanger a sua presença do meu pensamento, negando (para mim mesma) um meio sentimento.
Você volta para perto.
E eu, sem planos, te aceito, de peito aberto.
Fica comigo direito, só enquanto a gente sorrir um para o outro desse jeito?

Bipolares



Como anda você? Não anda, corre. Acertei? Nessa vida louca, de prazos, promessas, compromissos. E, de repente, um feriado, uma folga, filas e a paciência esgotada.
Estamos em alta voltagem. Bifásicos. Perigosos.
E bipolares, conforme a moda. Porque é chique ser enfermo.
Ligados no 220v, mesmo com uma infinidade de algarismos. E no empirismo distraído da autossuficiência. Tornamo-nos bipolares. Simples. Já que o composto não depende de nós. Já que estamos cansados da condição de estranhos ímpares.
Um.
Numeral. Solitário.
Porque uma sequência precisa começar em algum lugar.

Rótulos



Não compro brigas. Não defendo causas. Não sei não falar sobre amor.
E não vou tá podendo tá tentando tá fazendo!

Eu vejo gente com vergonha de sentir, de fazer carinho, de sorrir para outra. Em pleno século XXI. Vejo gente que chora por estar só e gente que não pode ser vista acompanhada, que corre o risco de apanhar na rua. Nunca tinha parado para pensar o quanto existem pessoas preconceituosas. Nunca fui vítima, meus sentimentos encaixam-se nos “padrões” sociais. A minha cor é meio-a-meio. (Ou meio amei-o?)
Isso porque o amor é universal e blá blá blá, mas vamos matar aquele viadinho. Sério?
Gente que não pode ser visto com pessoas ~de outra cor~. Somos todos canetinhas agora.
Sim, hetero falando sobre homossexuais. Assim como gente de humanas confraternizando com gente de exatas, como doceiras fazendo parcerias com salgadeiras. Ou como os trabalhos lindos que ~pessoas não down~ fazem com ~pessoas down~. Rótulos, bah! Eles que tem um cromossomo a mais e o preconceito tem parafusos a menos.
Escolhas, pessoas, escolhas. Identificação, dedicação. Até porque, em quase todos os aspectos da vida, somos número. E números não tem sexo.