sábado, 25 de outubro de 2014

Escravos

Não é preciso emagrecer para caber num abraço. Não é preciso batom para deixar marca.
Não há manicure no mundo que deixe suas mãos tão lindas quanto quando estão entrelaçadas com outras mãos.
As chaminés da indústria da beleza soltam o vapor que sai do secador de cabelo.
A massa destrói o planeta, o clima agride a pele e o ego sai sangrando.
Anunciantes declarados, escravos de carteira assinada, objetos de desejo ou desejo por objetos?

Não é preciso se vestir para os outros, se estiver bem consigo. 
Um sorriso de verdade brilha mais do que qualquer gloss.


Marillion - Beautiful

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Culpada

Eu assumo a culpa. Isso mesmo, podem mandar pra cá.

Os hospitais, a educação, o casamento gay, os bolsas isso e aquilo. E as bolsas nos olhos de tanto chorar. Tudo minha culpa. Pronto. Agora parem de lamentar. Podem voltar para a fila do sus, pra pedir aquele atestado de burrice, que te libera alguns dias preguiçosos do serviço. Ou pegue um cineminha com aquela sua carteirinha de estudante, se é que você me entende. Agora pode parar de perder sangue, suor, saúde e saliva, não porque está ruim para você, mas porque está melhor para quem não deveria. Aproveite para varrer a calçada, cumprimentar o vizinho, abrir a correspondência.

E se me permite, só vou ajeitar o travesseiro, que foi a única coisa que mudou de lugar desde as últimas eleições.


sábado, 4 de outubro de 2014

Egoísmo

As pessoas e seu egoísmo tão singular.

Inventam combos, compre/ganhe, leve3/pague2, participe, concorra. Diversas formas de consumo coletivo, de sociabilizar, de se fazer presente. Pregam a ideia de uma vida à dois, a constituição de uma família, o trabalho em equipe e nunca ajudaram alguém a atravessar a rua, e ainda passam no sinal amarelo. Não dividem as tarefas, a porção, os sonhos e o coração.

Cada dia existem mais motoristas de si mesmos, carros vazios, ruas cheias, trânsito difícil. Cada vez mais solteiros compram camas de casal, para dividir com sua deprimente imaginação. A cada ano, os aniversários parecem mais simples festas, comemorações de ninguém. Cada… peça custa 1,99. Mas se levar duas, sai 1,49 cada.




The Rolling Stones - I'm free

Dos direitos e deveres

Eu nem deveria falar sobre política. Mas tanta gente sem instrução, sem noção, sem ação, não deveria se candidatar para tomar conta dos meus interesses, então…
Eu também não deveria falar sobre religião ou dinheiro (que para mim, soa igual). Muito menos deveria falar sobre relacionamentos interpessoais. Não devemos falar sobre o que não temos. E não deveria levar desaforo para casa.

Então eu devo, escovar os dentes ao levantar, tomar banho todos os dias, me alimentar e beber bastante água. Devo respeitar as pessoas, trabalhar, buscar alguma forma honesta de sustento, aceitar que algumas situações não voltam, comparecer aos meus compromissos, devo escolher um governante que não faz ideia de quem eu sou, assim como os artistas que pago pequenas fortunas para olhar, de longe. Devo sempre portar meus documentos e me portar como uma pessoa civilizada, mas não devo portar armas. Devo usar meu cabresto, caso não concorde. Mas não devo ser irônica. E por fim, devo, não nego, pago quando puder.


Bush - The only way out

quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Tudo que vai

Toda vez que me deparo com ela é a mesma sensação, o mesmo medo, desespero, a mesma falta de entendimento. Um questionário se forma dentro da cabeça, as respostas são tão abertas que fugiram sem deixar rastro. É múltipla escolha às cegas, uma via de mão única. E nada me tira da cabeça que nunca é justo. A sociedade não me deixa acreditar que seja uma coisa boa. Acontece de repente e, como em um pesadelo, quem fica, sai da realidade. Todas as oportunidades, todos os sonhos...
Quem garante que o feito foi suficiente?

Toda vez que a morte se faz presente, a vida me surpreende.


Simon and Garfunkel - The Sound of Silence

segunda-feira, 29 de setembro de 2014

A sociedade do relato

Um clique aqui, outro ali e os acontecimentos nunca foram tão documentados.
A tecnologia (e o crediário) nunca foi tão funcional.
Há por aí, um banco de dados interminável do show da vida.
Mais registros e menos mãos estendidas.
Nem para ajudar, nem para apartar.
Testemunhas oculares de um mundo que não se enxerga mais sem as lentes.
Astigmatismo coletivo versus perda de oportunidades.
O pior cego é aquele que só curte e compartilha.


Korn - Blind

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

Gatilho

Encaixotar, selar caixas, carregar móveis, desocupar o coração, arrumar a casa, pendurar quadros, enfileirar sapatos, pendurar cabides, encher a dispensa com o que compensa.

Se acreditassem nas mudanças tanto quanto as pregam. Se plantassem e regassem, mas não regam.
Já fui assim ou de outro jeito, sou assim, serei talvez, o que ainda nem sei direito.
E há quem mude e não acredite na mudança dos outros.
Existem gatilhos por aí. Na forma de filme meloso, letra de música, livro de auto ajuda, luta oriental, ou na forma de gente mesmo.

Querer alguém sem passado é deixar de acreditar na possibilidade de mudança e melhora das pessoas. É buscar, sem sucesso, alguém que ainda vai nascer. Então porque não aceitar alguém que tenha renascido?
Até o vento muda a direção.


Kings of Leon - Temple

sábado, 16 de agosto de 2014

Hábito

"As pessoas não devem se acostumar com o que não faz bem à elas." Ouvi e concordei. Nem era para mim, o recado... naquele momento. Mas temos tantos momentos. Intercalados. Calados. Mudos.
Hábito. Vestimenta para orar ou para viver, é sempre um conformismo. Sem acento é aterro, soterramento.
Okay, tudo bem, pode ser, tanto faz.
Todos os dias, todas as horas, sempre.
E por que sim? Porque não!
Sonhos sufocados em um travesseiro, amores sem entrega, dissabores amargando a língua.
Preguiça do verbo, do movimento. É mais fácil perguntar do que aprender. Abandonar a própria existência e reclamar que tem alguém cuidando dela. Okay, tudo bem, pode ser, tanto faz.


Bon Jovi - Everyday

domingo, 10 de agosto de 2014

Por acaso

Goste de quem gosta de você, dizem.
Mas ninguém pensa em repetir essas palavras para o destinatário do meu afeto.

Pois eu direi.
"Com licença, perdoe o atrevimento, mas parece-me um bom momento. Se você não tiver intenções direcionadas, poderiam ser bem aproveitadas, nessa pessoa que lhe aborda. Listarei mil razões loucas e, se julgar poucas, posso tentar te conquistar pela boca. Se fizer alguma diferença, já que elogiar não é ofensa, você fez meu coração sorrir. Agora que estou exposta, faça sua aposta. Se nada funcionar, a sociedade há de me ajudar no último apelo clichê. Goste de quem gosta de você. (Por acaso eu já gosto)".



Mr. Big - Shine

Eu aceito.

A moda muda, a história se repete, mundo dá voltas e quem casa quer casa. Numa época em que amores eternos duram menos que a bateria do celular e as demonstrações públicas de afeto são exageradas ao ponto de questionar sua veracidade, ainda existe conformismo, comodismo e parceria.

Não mexer em time que está ganhando, ou simplesmente não se mexer. É mais confortável se manter numa situação do que começar outra. E é também mais sábio resolver os problemas juntos do que fugir no primeiro desentendimento. Oportunidades existem aos montes e, como tudo na vida, podem ser utilizadas para o bem ou não. Lembrando que beleza não se coloca na mesa e amor não enche barriga, saber cozinhar ou pedir pizza é importante para uma vida a dois. E que quem ama o feio...

Drummond me vem à cabeça “troiana, mas não Helena”. Porque não é mais preciso ser grega, ser Helena, ou a inalcançável Marília de Dirceu. Os romances travessos desde Brás Cubas e Leonardo Pataca até as versões comportadas (e ao mesmo tempo, rebeldes) de Jane Austen merecem um teto.

O footing moderno dentro de uma casa noturna ao som de uma balada eletrônica não satisfaz por muito tempo grande parte dos novos protagonistas. Que por sua vez procuram a quietude compartilhada mais cedo do que de costume.

E pensar que desde crianças buscávamos independência debaixo de barraquinhas feitas com lençóis amarrados às cabeceiras...

Hoje para-se para ver. Não paga-se para ser.

E, com a benção de um arquiteto, existe um matrimônio. Sem promessas no altar, ou flores enfeitando a entrada do salão. Mas na saúde e na doença, na alegria e na tristeza, até que a falta de vontade os separe.

Logo varais cheios, bolsos vazios, panelas fervendo... quem sabe noites em claro, quem sabe, dias escuros. Gritos de surpresa, silêncio de dor, guerra de travesseiros.

Mas se ainda houver sorriso, motivo, vontade... ‘que seja eterno enquanto dure’.



Wet Wet Wet - Love is all around

Além do balcão

À beira do balcão há desespero. Garrafas e garrafas. Cheias de um lado, esvaziando-se do outro. Entornando e tornando-se coragem, desculpa, riso, promessa. Fazendo melhores amigos por uma noite. Intermediando a linha entre encher o copo e esvaziar a mente. O primeiro acorde desperta quem adormecia no silêncio de si mesmo. Encontram-se, amantes da mesma música, filósofos, amores reprimidos, amores descobertos. Vinhos, idos, voltas, revoltas. Goles amargos.
É fim de noite, o riso é fácil, a luz é fraca. Aplausos. Garrafas vazias, coração cheio. Ele sorriu.
Há esperança... além do balcão.


Bon Jovi - Bed of Roses

quarta-feira, 16 de julho de 2014

E por que não?

Por que não eu? Ou então, por que eu não?
Se é padrão, deve ter explicação. Ser pouco, ser muito, ou não ser. Não merecer.
Ou achar que não merece. Essas coisas a gente não esquece. A dúvida nem sempre é um benefício. E as promessas podem ser artifícios. Pois então, deixe-me um sorriso. Ou algo que faça parecer que um dia quis ficar. Algum dia, algum momento. Quem sabe, um para sempre. Quem sabe pra voltar, ou só para lembrar.
Quer saber, deixe-me.
Apenas por deixar.


terça-feira, 15 de julho de 2014

Elogio

É só um beijo, não é uma bomba.
Mandei porque deu saudade, vontade de me explodir em você.
E porque eu quis.

Quem vai receber os meus recados, se estiverem guardados?
Por isso, os deixo espalhados.
Já que entrelinhas nunca ajudaram em nada.
Nem na parada, nem na caminhada.

E o que você vai fazer sobre isso?
O que se faz quando uma pessoa gosta da sua existência?
Aceita.
Talvez agradece, quem sabe, sorri.
Não há motivo para ficar mal.
Ser gostado é um elogio informal.

Mr. Big - Superfantastic

Contágio

Desejo melhoras à todos.

Aos enfermos de coração, que não amam.
Aos que batem de frente com o orgulho.
Aos que mentem. Ou ocultam a verdade.
Aos que sofrem ou pensam que sofrem. E também os que fazem sofrer.
E aos que têm medo. Principalmente.

Às novas gerações, não tão fortes quanto nossos avós. Essa geração que espirra e cai na cama, menstrua e parece que vai dissolver, corta a mão e não lava a louça nunca mais. Essa que acha que gravidez é doença, anorexia é saúde, pobreza é defeito, saudade é fraqueza.

Doenças ou desculpas? Doenças e desculpas.
Não dá pra contar só com a genética, os exemplos e os placebos disfarçados de promessas.

Melhoras às cabeças de todos.


Matchbox Twenty - Disease

quinta-feira, 12 de junho de 2014

O corpo fala

O corpo fala mas nem sempre sei o que ele quer me dizer. Ele sussurra, chama, implora, grita, esguela. Mutila. Traz trechos distantes do que um dia se foi. Traz vontades do que um dia possa ser. Tortura. Hiberna. Manda recados sobre a pele. Faz greve de fome. Como um filho rebelde.
Tem dias que desaba. Escorre até secar. Parece até maior, de tão vazio. Como uma casa para alugar, um quarto arrumado, um coração abandonado...
E dizem que tem louco pra tudo. Um pouco louco é melhor que um corpo mudo.


Gavin DeGraw - Overrated (Stripped)

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Don't touch this

Tem um vídeo rolando na rede, sugerindo que deixemos nossos celulares. No sentido de largar mesmo e ver as chances que perdemos, enquanto assistíamos a vida em uma tela.
Longo e, mesmo assim, bonito. Porque até hoje frisamos que não temos tempo.
Lembrei de quando meu celular não tinha todos esses recursos ~mínimos~ de hoje, ou até mesmo quando não tinha celular. Eu escrevia mais… e melhor, imagino.
Em contrapartida, distraía menos e sentia muito mais forte todas as alegrias, e ainda mais as tristezas e saudades.
Antes eu carregava bloquinhos de papel e canetas para todo lado, demorava-me em alguma praça, rabiscava a vida das pessoas. Hoje riscamos a nossa vida em touchscreen. Sem tocarmos uns nos outros. Ironicamente, já que touch em inglês, significa toque.
Hoje mal demoramos debaixo do chuveiro. Tudo precisa ser rápido. A fome, o sono, o carinho.
Menos os feriados. Porque desses não há quem abra mão.





Look up - por Gary Turk

domingo, 11 de maio de 2014

A última coisa que eu queria era falar de amor

Mas a gente não vive sem ele. Ou acha que não.
Dá sim para viver sem o amor, mas não sem amar.
Gente.
Um pouco de carbono, criatividade e vontade de ser meter na vida alheia.
O fascínio pelo ser humano é inevitável.
A identificação também.
O comportamento humano e a ironia social.
Isso ilumina.
E foi desse brilho que nasceu Prissílabas.
Quando as sílabas não eram suficientes para contar o que eu via.


REM - Imitation of Life

Até que...

Vivo em um mundo que as pessoas moram na internet. Habitam, vestem, alimentam-se. Conhecem e não abraçam. E, abaixo dos sorrisos estáticos, há um pouco mais (ou menos) que a ferramenta do instagram pode cortar, do que a rede pode mostrar. Eu também moro um pouco na internet. Até que sinta o vento entrando pela janela, até que a chuva entre junto e molhe os lençóis da minha cama. Até que ouça os fogos de alguma data comemorativa, quermesse ou campeonatos de futebol.

Vivo em um mundo em que a autocensura é automática quando o assunto é política, religião e homossexualismo (até hoje!). Até que apareça na novela.

Vivo em um mundo em que ninguém que eu conheço tem dinheiro nunca, mas vive viajando e aparecendo com coisas novas. Mas não discuto, talvez foram contemplados em alguma promoção.

Vivo em uma época em que citações filosóficas saem de entrevistas ou trechos de música de qualidade duvidosa.

Ah é, e eu vivo no país que vai sediar a copa do mundo. Aquele mundo mesmo, o que mora na internet. E já estou começando a desconfiar que esse 'sediar' vem de sede e não de sede, sabe? Até lá muita gente vai morrer de sede para que chova na nossa horta. E que vai ser difícil encher a taça e matar essa sede.


The Cure - The End of the World

domingo, 4 de maio de 2014

Eu não vou chorar.

Por mais que lave a alma, o rosto, o corpo e o travesseiro. Por mais que digam que alivie a dor, mesmo que me despedace por inteiro. Por mais que eu tenha desejado apenas te fazer sorrir.
Eu não vou gritar.
Contestar desesperos que estão apenas dentro de mim, erros que apenas eu enxerguei e lamentar lugares que só eu viajei, com você, nos meus sonhos mais loucos.
Tentarei não mais lhe incluir nos meus devaneios. Não desviarei dos arrepios alheios. E ofertarei um minuto de saudade, um pedaço da vontade que passei e não recebi.

Chris Cornell - Redemption Song

"Fica comigo só hoje." Eu diria todos os dias.

E nos dias que eu não visse passar, eu repetiria nas noites também.
Como um bom hábito. Como uma futura tradição.

Eu ficaria olhando para você por horas.
Até não sei quando, ao certo. Até que você me sentisse por perto.
Porque você me desconserta sem me quebrar.
Atormenta, tira meu ar. E como eu adoraria..
Que você ficasse comigo só hoje. Eu diria todos os dias.



City and Colour - Hope for Now

Se a saudade é a falta, por que transborda tanto?

O vazio é pouco, mas ao completar, fica cheio. Pela metade não queremos viver e transbordar pode ser demais?
Saudade, meros mortais, escorre pelos dutos corporais. Em um estado desconhecido de matéria, ou talvez apenas mutante. Enche copos, corpos, cabeças e buracos tão grandes e tão rasos,  que não se sente afundar, afogar. Que não se pensa em enterrar. Ou deixar escoar. No tempo. Aquele placebo perfeito, que vai apagar o que não deu "certo". Posto que errar é que ''humano''. E são tantos os enganos...
Porque o tempo é relativo. E o pensamento em relação a ele é de uma escassez...
Eu tenho pra mim que nada dá errado. Nem a insistência no passado. Penso que tudo dá certo. Por um ano, por um dia, por 19 segundos.. Tanto faz. Senão para que tentar?


Silverchair - Tomorrow

sexta-feira, 2 de maio de 2014

Drops #7

Sentir é a melhor coisa que existe. 
Privar-se disso só por um medo ridículo de sofrer é pensar além do que a palavra futuro significa.
Pare e viva hoje. 
Amanhã o sentimento muda, fortifica ou acaba. 
Tanto faz. 
É só não esperar.

quarta-feira, 5 de março de 2014

Um toque

Muito fala-se em sentimentos.
E, ao passar para o papel, a memória dos outros sentidos bate em retirada e ultrapassa, desesperadamente, o arrepio do coração. Não há como escapar. Posto que arrepio remete à uma característica tangível. E essa necessidade de toque físico se deve à falta de argumentos para descrever o sentimento de uma forma que ele possa ser visualizado, desenhado, colorido, emoldurado, pendurado... O corpo é a materialização mais fiel das emoções. O corpo chora, lamenta, ri, dança, abraça, respira. E, em meio às vicissitudes da vida, encontra-se uma forma de ser, tangivelmente intangível.


The Doors - Touch me

(Não minto e não exagero quando digo que gosto de quem me inspira, para que eu possa exalar sempre o melhor.)

50 tons de pós carnaval

Amanhece e nem sinal das serpentinas. Há apenas algumas horas, a festa prometia não ter fim. 

Parece até que foi ontem.

Tudo era cor, som, suor e sorrisos. Até mesmo de quem culpa religiões, política e a sociedade pelos feriados, mas que os aproveita como se não houvesse uma quarta feira de cinzas para o retorno ao trabalho.
Pouco antes do meio dia, ruas lotadas, caras amarradas. O sorriso também se foi. As máscaras, nem todas. Trabalhar é preciso. Lógico, porque quem irá atender todas aquelas pessoas irritadas que acordaram com um desejo absurdo de sair de casa e passear pelas lojas, e parcelar, e reclamar que o comércio não abriu cedo? Sim, porque o mundo festeja e ninguém toma conta do caixa, da segurança e das vendas dos antiácidos. Imagina na copa. A la la ô.


segunda-feira, 3 de março de 2014

99.9%

Qual o teor alcoólico do amor? É possível embriagar, mesmo com toda a glicose, da doçura desse sentimento? Quais os efeitos colaterais? Aquela alegria instantânea, depois vômitos, náuseas, intensas dores de cabeça, perda de memória? Cria, por um momento, a coragem necessária para as confissões mais absurdas, os desejos mais secretos, as performances mais improváveis. Imagina-se quanto tempo dura até que se possa começar de novo. Porque ninguém nunca parece satisfeito. E há quem coloque a culpa na bebida. Você colocaria a culpa no amor?


Bush - Cold Contagious

domingo, 2 de março de 2014

AGRADEcimento

Obrigação? Não, obrigada. Qualquer força usada, proferida, lançada, tira todo o agradar de qualquer agradecimento. Deixa só o peso do cimento. Ou toda aquela tara sem o peso.
Qualquer ser, estar, parecer, permanecer, ficar ou outro verbo de ligação que me desligue de mim e me ligue à desconfortos, tire do meu porto e traga o passado morto é desnecessário.  Assim como marcar horário. Como as distâncias não solicitadas, as proximidades não programadas, as confissões afogadas.

Usar a força com brutalidade, pode acabar perdendo a cedilha contra a vontade.





Barenaked Ladies - Told you so

Drops #6

E então eu te vi.
Antes disso, não lembro... como estava, o que fazia, o que pensava…

Até porque tudo sumiu quando você passou. Senti um vento mais forte. Que bagunçava seus cabelos. E seu abraço me fez torcer para que você não percebesse o quanto eu tremia. Só sei que na combinação das cores, na conspiração dos acordes, no pulsar alterado, eu não queria que aqueles segundos acabassem. Você também se sentiu assim?

terça-feira, 4 de fevereiro de 2014

Delírio VIII - Sociedade

Ah, sociedade!
social cidade
silenciosa vontade
assassina autenticidade
associa saúde
sem assiduidade
suicida, saudade
discriminalidade
diz criminalidade
sobriedade
saciedade
ansiedade.


Eddie Vedder and Johnny Depp - Society

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Drops #5

Às vezes eu queria que ponto fraco fosse só um ponto. Porque nem sempre é apenas um ponto. É uma pessoa, um cheiro, um sabor. Queria que fosse só um marco, uma abertura de nota. Uso tópico. Um encostar de tinta no papel. De uma ponta esferográfica. E que apagasse lentamente com a ação do tempo. Fraco. E ponto.

Drops #4

Eu não trocaria o que estou sentindo por não sentir. Por não saber como é me desmontar e me juntar inteirinha de novo, várias vezes. Eu não venderia esse sentimento, por mais valioso que seja. E também não guardaria. Inútil! Invisível. Sentimentos devem ser conhecidos, mesmo que não sejam reconhecidos. A gente perde tanto por ter medo...

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Poligonais

Uma reta é o menor caminho entre dois pontos. Dizem.
Se o caminho estiver livre, ótimo. Se não estiver, bom, aí não dá para traçar uma reta.
Tenha em mente o objetivo: o outro ponto. E caneta no papel (ou pés no chão). Faça um traçado preciso, nem tão leve que possa apagar facilmente, nem tão fundo que ultrapasse a pauta ou rasgue o caderno. Coloque todos os seus pedaços juntos, em marcha, até o outro ponto. Se precisar, não recuse apoio, uma régua, uma mão. Não refaça tantas vezes, o traço fica grosso, disforme e forçado. E não trace tantas retas. Se fechar um polígono, alguma coisa pode ficar presa. E ninguém quer ser refém. Ou fazer reféns.
Há ainda quem se interesse por curvas.
Há quem se encante por estrelas.
Há quem abomine geometria.
Mas a regra é clara.

Uma reta é o menor caminho entre dois pontos… que queiram se interligar.


Michael Bublé - Haven't met you yet

Drops #3

Não é de mim que você vai gostar de outro jeito. Não é a mim que você vai chamar por apelidos idiotas, puxar pelo braço para mostrar alguma coisa e, simplesmente me beijar, porque tudo que vale a pena já foi visto. E na corrente de ar que separa nossos corações. Tão perto e tão longe. A distância é tão subjetiva… e não opcional. Será que eu gosto de você ou apenas gosto de sofrer?