segunda-feira, 25 de março de 2013

Delírio VI

Sabe tudo aquilo que eu sempre sonhei? Você não é. E eu não sabia. Não sabia que ainda ia querer e gostar tanto disso. Das nossas diferenças. Para cada coisa que eu não gosto, tenho duas que me atraem. Para cada abandono sem razão, tenho a lembrança da sensação deliciosa das suas mãos na minha cintura. Do calor do seu corpo no meu. Do seu jeito de insistir no não quando quer dizer sim. E digo que não devo, que não é certo mas não sei me afastar... Penso em te pedir para sumir. Saia! Saia de mim. Tire esse gosto da sua boca na minha e toda aquela sensação inexplicável quando os meus dedos se perdem entre os seus cabelos... Ai Deus, queira ficar! Só mais um momento. Que eu não te faço sofrer. Porque pode até ser nada, mas é um nada cheio, e com gosto daquilo que nunca tinha provado. E que, certamente, quero mais.


Voar...

Tinha mania de balões. Daqueles de papel. Fazia vários de uma vez... com embalagem de chocolate. Mesmo sem gostar muito de chocolate. Dobrar era uma terapia, assim como cozinhar, limpar a casa e escrever... e música. Naquela tarde limpou a mesa, deixou o arquivo organizado e recolheu os balões. Chegou cedo, ouviu The Strokes o dia todo e pensou, pensou muito. A decisão estava tomada, era só comunicar. Parecia tão difícil, o apego, a saudade... as amizades. E o contra peso eram os sonhos deixados para trás. Ainda bem que sonhos não desistem da gente, a não ser que a gente pare de sonhar. Abandonar o barco é melhor do que ficar para vê-lo afundar e às vezes próxima oportunidade pode não chegar.
Olhou em volta, uma garrafa de água vazia. Até a vida tinha acabado ali, evaporado através da tampa. Suas mensagens de otimismo pregadas com fita lhe sorriam, apesar de ter sido julgada amarga. Era provável que chorasse, de saudade talvez, quem sabe, um dia... mas nesse momento não sabia de mais nada. Só o que queria. E levou os balões no bolso da calça... porque agora era hora de voar.