quarta-feira, 24 de abril de 2013

Narcóticos anônimos

Oi gente, meu nome é Priscila e sou viciada. Ooooi Priscila. Sou viciada em sentimentos. E em pessoas. E em pessoas que se sentem pouco porque alguém  'sentiu muito'. Sou ré confessa e meu crime é por para fora o sentimento dos outros, porque não faz bem guardar os males.  Apesar da dor fazer sucesso. Porque todo mundo sofre (ou acha que sim). E não sou eu quem vai dizer pra esquecer e pronto. Gente do bem sofrendo de algum mal. Isso é equilíbrio.

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Todos os dias

Todos os dias tenho medo de morrer.
É tanta desgraça que passa na TV.
É tanta farsa que a gente finge que não vê.
É toda massa concentrada em se intrometer.

Todos os dias a realidade choca, a mídia provoca e a gente não se toca.

Todo esse altruísmo me deixa surpresa
Porque se não fosse a tristeza e a pobreza
Do que a massa teria compaixão
Já que a cultura local não tem felicidade como ganha pão?

E pode parecer egoísmo ou não
Mas porque cada um não cuida do próprio coração?

Por isso prefiro tapar os ouvidos
Porque só eu sei o que tenho sentido
E todo dia tenho medo de ainda não ter vivido.

quarta-feira, 17 de abril de 2013

Inteiramente

Tudo inteiramente tão abusivo que a massa não hesita em pedir desconto, bônus, brinde ou um chorinho que seja. Chorinho.. o álcool, a dança, a lágrima... Tudo tão caro que a gente se sente barato demais, pequeno demais, pela metade. Meio alegre, meio triste, meia muçarela, meia calabresa. Mesa pra um, cama para dois, suíte, três quartos, fone de ouvido, comida congelada, par de meias e um pensamento:
Se fossem inteiras, não seriam vendidas aos pares?

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Em breve

Ela perguntou sobre matar saudade.

- Em breve, ele concluiu.

- Quanto é breve para você?

- Pouco.

- Mas se a brevidade for um intervalo, como no caso, e intervalos são espaços de tempo de espera... breve é muito para mim. Posto ainda que Drummond diz que o amor é grande e cabe no breve espaço de beijar, o que parece pouco, mas é tão infinito quanto a vontade de te ver, te tocar, te fazer rir, te fazer bem... Mas quando estamos juntos tudo passa tão rápido que breve se torna absurdamente insuficiente. Assim penso que breve pode ter significados opostos, tão desproporcionais e tão injustos!

- E quanto tempo é infinito para você?

- É todo o espaço de tempo que quero estar com você e, ao mesmo tempo, todo o intervalo que eu estiver longe de você... é tão...

- Você fala demais.

...
E aproveitaram sua brevidade infinita.




terça-feira, 2 de abril de 2013

Fuga

Fundo. Bem fundo. E de pulmões cheios, começar a correr. Para longe, sem parar, sem olhar para trás. Cada vez mais rápido, com as memórias desprendendo do corpo com o vento. O som sumindo no efeito doppler da vida. Com o suor brotando, escorrendo, secando. E os olhos fechados. Rasgando o chão, o tempo e as impressões deixadas. Indo embora para longe de si mesmo, deixando a paisagem para trás. Sem contemplar. E, ao final do percurso, sentir o cansaço e perceber que não saiu do lugar. Porque a fuga de si mesmo é estúpida, ingrata e dolorosa. Não há como abandonar na primeira curva da estrada o que está dentro de nós. Não há como afogá-la em soluções borbulhantes ou fingir que não existe.
Fundo. Bem fundo. E de pulmões cheios, começar a respirar. Olhos abertos, passos lentos e um novo rumo. O dia seguinte é sempre uma oportunidade justa de fazer diferente.



Ponto Ponto Ponto

Uma pessoa de reticências. Era assim que era... e ponto. Ou melhor, três pontos. Que deixam as situações em stand by. E na incapacidade de encerrá-las, prolonga sentimentos perdidos em outro tempo. E chama de amor. E então, entre o 'era uma vez' e o 'melhor não ser mais sua', o sentimento retentor das versões poéticas e suspiros não programados chega ao nível de bastar apenas por ser sentido. Sem posse.
E na relutância em virar a página, um vento sopra fechando o livro bem na hora que seus marcadores descansavam em cima da cama. Ponto final.
Era hora de começar outra história.
Abre aspas.